Sinopse: Se as palavras fossem contas, seriam os livros rosários e as poesias seriam ternas orações. Se as palavras fossem flores, os livros seriam jardins e as poesias seriam cores, pétalas e perfumes. Mas, se as palavras fossem folhas, os livros seriam árvores e as poesias seriam floradas e frutificações.
E se as palavras fossem estrelas e luas, a noite seria o livro e as poesias seriam luares e constelações. Ainda bem que as palavras são tudo isso e muito mais, infinitamente mais. Então, não cabe perder tempo buscando conceituá-las, uma vez que é com elas que a nossa vã sabedoria conceitua todas as coisas e seres, viventes ou não. É do feitio do homem valer-se das palavras para sentir-se vivo, para dizer, sonhar, fazer e acontecer.
E quem senão o poeta tem no ofício o condão de dar às palavras sons muito mais que as sete notas do instrumental; cores muito mais que as do arco-íris do céu do mundo ou da paleta do pintor. Mas elas exibem uma desafiadora rebeldia, e em muitos casos uma camaleônica conduta.
Daí a extrema necessidade do poeta de domar as palavras e fazê-las cumprir o papel soberano e humanizador no âmbito da sua engenharia poética. E foi alinhando diversos eu-líricos, afinando vozes diversas num coral literalmente harmônico, que levamos ao palco de exibição o livro Poemas, poesias e outras rimas, de conteúdo forte-suave e até comovente, condimentado e mexido por um punhado de mãos, mãos que se entrelaçaram pela amizade e comunhão solidária de sonhos.
Manoel Bispo Corrêa
Escritor, poeta e artista plástico
Composta pelos seguintes escritores:
Alcinéa Cavalcante
Annie de Carvalho
Celestino Filho
Eliade Cristina
Fábio Nescal
Hamilton Antunes
Jaci Rocha
Jô Araújo
João Barbosa
José Pastana
Luiz Alberto Costa Guedes
Manoel Bispo Corrêa
Maria Ester
Marven Junius Franklin
Neth Brazão
Raquel Braga
Ricardo Pontes
Rogério Silva
Ronilson Medeiros
Tiago Quingosta
A coletânea " Poemas, poesias e outras rimas" reúne prestigiados escritores em um misto de amor e amizade, um livro repleto de sensações, e sentimentos, veja alguns poemas que se encontram na coletânea.
Pedaços de mim no chão
(Rogério Silva)
No espaço onde eu habitava não me encontro mais.
No mesmo lugar está um velho par de sapatos;
roupas num canto, outras na parede pendurada.
na solidão conversam entre si
em diálogos silenciosos; perguntam por mim.
Mas não estou.
há tempos não me vêm,
há tempos não saem;
há tempos não me calçam os pés.
E não sabem onde estou.
É que sou feito do mesmo tecido que são feito os sonhos,
e como não mais tenho sonhos, tampouco tenho vida;
tampouco existo.
Mas o que ainda há, são vestígios de mim.
Entre a poeira e o mofo,
o silêncio e a solidão,
pedaços de mim no chão.
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Poeminha em noite de super lua
(Alcinéa Cavalcante)
Vamos namorar na praça, meu bem,
Aproveitando este luar que se derrama sobre a cidade.
Abraçados contaremos histórias do espaço sideral
e embarcaremos numa nave brilhante
que nos espera no centro da praça.
Trocaremos juras de amor entre as estrelas
e lá do alto veremos a terra
como um imenso bolo confeitado com anilina azul-ternura.
Vamos namorar na praça, meu bem,
e embarcar na nave brilhante
que pousará na superlua
onde com um lápis mágico faremos um desenho.
Já pensou, meu bem, na surpresa dos astronautas
quando virem na lua um coração com nossos nomes dentro?
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Doce aurora (Annie Cavalcante)
Fui visitar... Peguei carona na montanha das brisas; cheirando o verde das astronomias, vi-me embriagado de vagalumes. Vislumbrando à janela vi seus olhos magmáticos, mas eu pescador de sonhos, de imediato vi-me estático e sem energias; de repente meu prisma de incertezas quebrou-se em sua presença... ela é a rosa das direções e das paixões; donzela flor de laranjeira, aromática e magnética. Recebeu-me abrindo seus cabelos de espectros e genialidades; envolvendo-nos libertou meus pesares Regressei peão de estrelas domador de infelicidades. _____________________________
Um poema chamado você
(Celestino Guedes)
Você, senhora dos meus pensamentos,
Algoz da minha vontade.
Inquisidora dum sentimento,
Luz da minha saudade.
Estende a mão e me resgata,
Dessa relva escura-Insensata,
Véu ardente a fronte salta,
Nessa angustia que me mata.
Céu brilhante em mim reluz,
Em claras gotas sufocantes,
Promessa branda me seduz.
Aflora à vida pela morena,
No meu íntimo se resguarda,
Toda a pureza alegre e plena,
Da janela dessa alma.
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Boliviafuá
(Fabio Nescal)
Estou vivendo
Entre dois pensamentos
Entre a cruz e a espada
Entre a seriedade e a palhaçada
Entre a perfeição e o pecado
Entre o certo e o errado
Entre o profano e o sagrado
Entre o doce e o amargo
Entre a razão e a emoção
Entre o principio e o fim
Entre a benção e a maldição
Entre a companhia e a soliidão
Entre o frio e o calor
Entre o inverno e o verão
Entre o amanhecer e o anoitecer
Entre a luz e a escuridão
Entre fantasia e a realidade
Entre a mentira e a verdade
Entre a castidade e a imoralidade
Entre a pureza e a carnalidade
Entre a letra L e a letra M
Entre o volante e o leme
Entre o amar e o desamar
Entre Bolívia e o Afuá.
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Saudade
(Jô Araujo)
Meu peito apertado
Esmaga meu coração
Que se agita desconsolado
Porque me és solidão.
Essa falta que vem de ti
Anuvia minha alegria
E chove monotonia
Nas flores do meu jardim
Alheio do meu sentir
Te fazes em mim eixistir
Sem saber do meu sofrer
E nem do meu querer
E nesse momento oprimido
Na garganta um quase gemido
Sinaliza essa dor
Da falra do teu amor.
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Apaixonado
(José Queiroz Pastana)
Escrevo muitos poemas
Por isso que sou um poeta apaixonado
Dono de muitos corações
Tenho a mulher da minha vida
Em seus braços hei de viver feliz
Se o céu enquanto estrelado
Tem a magia da poesia
A primavera deixa o dia mais lindo
Porque o amor é majestoso e imponente
Ele é o bálsamo que faz bem ao coração.
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Presente
( Manoel Bispo)
Recebeu de presente Natalino
Uma polida e sintética semente
De primeiro ato não lhe ocorria
O que fazer com o abstrato grão.
Andou pensando de um extremo
Ao outro, de sua pouca ciência
E de um passo para o horto
Decidiu escondê-la no raso da terra.
Correu o tempo, esfacelou-se a vida
Em passos largos, levando o andor
E ele esperou uma árvore frondosa
Um pé de lindos e maravilhosos frutos.
Nasceu-lhe por germinação atemporal
Um roçado azul de feijão milhado,
Uns bois-bumbá cheios de brilhos,
Uns cavalinhos saltitantes de carrossel.
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Para tornar-me claridade
( Marven Junius Franklin, poema para Natalina Ribeiro)
Se a amargura se recompusesse
em incomensuráveis plantios de girassóis
minha alameda e minha insanidade
tornar-se-iam fulgor estonteante de amanhecer
( seus lampejos multicoloridos
adentrariam sem cerimônia
minhas antemanhã de solidão ).
De imediato minhas aspirações poucas de viver
erguer-se-iam do meu rio de contrassenso
e me tornaria teu deus - um Thor equidistante
ornado de flâmulas e gládios de fogo.
As nuvens desprezíveis e tenebrosas
estacionadas na minha varanda
dissipar-se-iam e logo eu seria
o que você tanto anseia:
- Um dia intenso e setembro.
( Pois meu tempo - Querida senhora - Que antes eram séculos
hoje são segundos que disponho para te fazer feliz).
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Vitrines
( Ricardo Pontes)
Luz que se contrai
Nas marcas do amor dissimulado,
Diverge-se pela mulher amada.
Invade todos os mistérios,
Transforma-se em saudade,
Deixa somente marcas na tristeza.
Envolve-nos nos enigmas e segredos.
Que convergem os olhares
Da sombra de tua alma...
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